domingo, 22 de maio de 2011

A Paz

"A paz invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz, como se o vento de um tufão arrancasse os meus pés do chão, onde eu já não me enterro mais. A paz fez o mar da revolução invadir meu destino – a paz – como aquela grande explosão, de uma bomba sobre o Japão, fez nascer o Japão da paz. Eu pensei em mim, eu pensei em ti, eu chorei por nós. Que contradição, só a guerra faz nosso amor em paz!? Eu vim parar na beira do cais, onde a estrada chegou ao fim, onde o fim da tarde é lilás, onde o mar arrebenta em mim o lamento de tantos ais"... ( Gilberto Gil).

A raça humana nasceu destinada à paz ou à guerra? À guerra, eu penso, do contrário, por que tanta guerra para se conseguir paz? Ela, a paz, precisa estar sempre vigiada, cuidada, como um bebê que, se não for amparado, não sobrevive. Então, se é tão tenra, tão indefesa, é porque representa uma conquista – eu disse conquista? Mas para se conquistar algo é preciso lutar, guerrear – a paz é resultado da guerra, pois? Isto daria uma tese!

Grampeando muitas e muitas páginas de uma excelente discussão que poderia surgir, encontramos adiante a necessidade que qualquer Estado tem de manter a paz entre as pessoas que administra. Não por qualquer motivo altruísta, mas tão somente por questões econômicas e administrativamente racionais.
Afinal quem consegue administrar, de forma tranquila, o caos?

É necessário, pois, impingir a paz a qualquer custo. É preciso previsibilidade de atos e atitudes. É para isso que a lei existe. Os tipos penais são, na verdade, exceção à regra de harmonia, segundo as normas de trato social erigidas e atualizadas (às vezes de forma tão lenta) no curso dos anos.

A paz pública é, pois, o resultado de um esforço hercúleo de manutenção da ordem legal e social com fins econômicos e religiosos, não necessariamente nesta ordem. Não há lugar para dissidentes. Eles são imprevisíveis, e suas práticas funcionam como areia em uma engrenagem. Assim, lei neles!

E nós, gostamos que assim seja? Os que estamos em uma situação privilegiada, adoramos! Caso contrário, anseia-se pelo tumulto, pela crise, para que, nesse sacolejo, se possa tentar inverter a situação (essa palavra vem a calhar!) e nela se inserir. Aí, então, a exigência será a da preservação da paz pública (leia-se manutenção do status quo), duela a quien duela (frase colorida).

Eu sou intimamente de paz, creio, mas confesso, sinto medo do vulcão adormecido que carrego em meu peito, a quem eu nino todas as noites e peço para não acordar. Mas faço questão de que ele se mantenha soltando aquela fumacinha, que é para eu não esquecer que ele existe, e também para que eu, respirando pequenas porções diárias de sua essência, não perca, nunca, a minha capacidade de me indignar...

2 comentários:

  1. Uma bela e evidente inquietação. Ratifico com uma afirmação: As grandes obras da realização humana partem da construção e não da destruição. Precisamos de oceanos de paz, assim afogaremos as pequenas poças de guerra que possam surgir.

    PS: Já estávamos com saudade das suas contribições. Parabens!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Valeu! Vou tentar não deixar o tempo me atropelar tanto!

    ResponderExcluir