terça-feira, 25 de julho de 2017

O DIA DO POETA E OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (Fernando Borges Jr.)

O DIA DO POETA E OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (Fernando Borges Jr.) Hoje é o dia do poeta; e eu passei o meu dia cuidando de Embargos de Declaração. Ao invés de escrever poemas, autuei processos de Embargos de Declaração. Ao invés de chorar as dores e cantar os amores, cadastrei partes e advogados envolvidos nos Embargos de Declaração. Não construí rimas com estilo; apenas certidões-padrão, pra fazer juntada dos Embargos de Declaração. Não observei as pessoas; não traduzi seus sentimentos; apenas li argumentos dos Embargos de Declaração. Não me vi desenhar palavras com o sabor que satisfaz o paladar de quem as ouve ou as lê; Por mim passaram apenas palavras gris, pois não há cor nem sabor nos Embargos de Declaração. O meu dia terminou; a noite chegou; a poesia ficou na prateleira. Sobre a mesa, autuados e por autuar, alguns Embargos de Declaração. Preciso sanar as omissões e obscuridades que às vezes invadem minha vida de poesia; negar provimento a tudo que vise retardar minha alegria; não conhecer absolutamente nada que estrague a minha fantasia. Afinal, não quero virar um processo findo, em alguma prateleira de um arquivo-morto. P.R.I. (Publique-se. Registre-se. Intime-se)

Vende-se um Homem

VENDE-SE UM HOMEM (Fernando Borges Jr.) Vende-se um homem Procedência: Alto sertão Ocupação anterior: Qualquer Dados a respeito: Um ser Que, há muito, tenta ser Luta pra continuar a existir Alguém que, movendo e removendo, Da terra fez um broto crescer Regando-o com seu suor, Pois água é difícil de se ver Vende-se um homem que faz de tudo: Ara, rega, varre e sente, mudo, A dor sofrida de viver Lavrador, já foi; Vaqueiro, já foi; Varredor, já foi; Carregador, já foi. Homem, de direito Cadáver, de fato Felicidade, um prato cheio E uma garrafa de pinga... Não aprendeu a pensar Mal aprendeu a falar Pode votar... Vende-se um homem que Nasceu assim, abortado Cresceu assim, largado Vive assim, rejeitado E antes que morra assim, abandonado Pergunta-se: alguém vai assumir esse atentado? Alguém quer comprar um homem?

terça-feira, 14 de julho de 2015

O REINO DO LAÇO, NA TERRA DA LASSIDÃO Fernando Luiz Borges Jr

Era uma vez um reino muito conhecido, por ali existirem especialistas em laços. Por laços, entendam-se os de toda sorte: laço, propriamente dito, arapuca, visgueira, manzuá, e qualquer outro tipo de armadilha de que vocês possam lembrar. A forma de captura também variava, de acordo com quem preparava o laço. Se a armadilha era montada por quem fabricava produtos, as formas mais comuns eram: especificar um objeto e colocar outro, de qualidade inferior; reduzir o conteúdo, mantendo o tamanho da embalagem, etc.; enfim, técnicas que, à luz do código penal, poderiam ser enquadradas no art. 171 – crime de estelionato – do Código Penal, mas que, por conta do estado de lassidão em que se encontravam comandados e comandantes, iam sendo adotadas de modo generalizado, na base do farinha pouca, meu pirão primeiro! A outra forma de captura e, – creio - mais perigosa que a primeira, era a praticada pelos senhores do reino. Também conhecida como armadilha do queijo – o do tipo reino redondo -, ela consistia em gerar e manter em torno de si uma superestrutura formada por comandados especializados - a quem era prometida uma vida confortável, por conta do retorno financeiro proporcional ao grau de complexidade dos trabalhos desenvolvidos. Naturalmente, fazia parte das promessas a proteção contra os sobressaltos do mundo extra muros (também conhecida como estabilitatis). Tudo devidamente registrado em tabelas e avalizado pelo selo sagrado da assembleia real (papiro supremo que trazia em seu bojo o DNA do reino. Era um documento superior ao rei, em tese, e todos - inclusive o rei - a ele eram submetidos). Como a condução desse reino era muito complexa, não se podia ter comandados quaisquer. Eles tinham de ser os melhores dos melhores; resultado de competições nacionais com representantes de diversas tribos. Muitos desses representantes abandonavam todas as demais atividades sociais de suas vidas por meses e anos, até, preparando-se para essas provas. Mesmo sabendo que concorreriam com dezenas – próximo, até, de uma centena - de milhares, esses comandados se lançavam nessa jornada incerta, atraídos pela contrapartida (canto da sereia!?) apresentada pelos senhores do reino. Não é demais lembrar que, para condicionar os que se aventuravam nessa empreitada, eram estruturados vários centros de preparação, os quais cobravam – e muito caro! – para ensinar os meandros e notas de rodapé que poderiam ser cobrados nas provas das competições (que também eram precedidas de pagamento pelos competidores!). Aí começava a seleção, e quem podia pagar curtia a #parti na frente. (Salto no tempo). Com todo respeito à decepção e prejuízo (psicológico e financeiro) da maioria esmagadora dos competidores, vou prosseguir a história com os ditos aprovados. Com eles, os senhores do reino passavam a ter ao seu dispor a nata de comandados vencedores nas competições. Estes, por sua vez, ainda inebriados com suas performances, deliravam, na expectativa da vida prometida. Por isso mesmo nem se importavam em aumentar – só mais um pouco – o custo do seu ingresso na estrutura interna do reino. Afinal, vitórias tinham de ser comemoradas! Parecia justo! Concluindo ser uma atitude lógica, a partir do seu chamamento, os mais novos comandados começavam a planejar suas vidas, sem receio do porvir. O que eles desconheciam é que as regras das competições editadas pelos senhores do reino só valiam até aquele momento. E assim que os novos comandados tomavam posse e entravam em exercício a serviço do reino, ouvia-se um estrondo vindo de suas retaguardas: Cabrum! Eles haviam caído no laço! Daí em diante passavam a ser tratados por servidores! A partir de então os senhores do reino passavam a exigir dos servidores que executassem atividades cada vez mais complexas e em maior número do que rezavam os termos da competição. A contrapartida, representada por um arbusto de metal, começava a ser atacada pela inflacionis monstrus, um agente nocivo que corroía suas folhas e enferrujava seu tronco, fazendo com que o arbusto estagnasse e começasse a perder vida. Quase me esqueço de dizer que, num círculo mais próximo, os senhores do reino mantinham e adubavam seus próprios arbustos, além dos arbustos de um grande número de subordinatum cumpatris – um tipo diferente de servidores que, não só não disputavam as competições, como entravam e saíam do reino ao gosto dos senhores. Havia dezenas de milhares deles no reino do laço, vindos da terra da lassidão. A única competência de que dispunham era a de terem um QI elevado. De quanto? Nunca fora revelado. Quanto aos servidores aprovados, iam cumprindo sua parte na superestrutura do reino, enquanto assistiam a ferrugem da inflacionis monstrus corroer seus arbustos. Para não matá-los de inanição (e ter de adquirir novos servidores), de tempos em tempos os senhores do reino liberavam pequenas porções de anticorrosivo. Essas porções não cobriam todo o arbusto. Davam conta de lubrificar uma parte dele, e proporcionar a sensação de que o arbusto iria reagir e frutificar. Esperança vã. Quando os servidores se juntavam para solicitar aos senhores do reino um pouco mais de anticorrosivo (pois, estando há quase uma década sem poder lubrificar seus arbustos, assistiam à sua degradação lenta e progressiva pela ação da inflacionis monstrus), ouviam desses senhores uma distorcida mensagem (ampliada pelos sistemas de comunicação do reino, que não estavam a serviço do reino... só que não...), no sentido de que eles, os servidores, eram uns insubordinados; ingratos; que pediam doses cavalares de anticorrosivos em detrimento de todo o reino; que o seu pleito era imoral, injusto, antissocial. Acho que os senhores só não diziam que os servidores/insubordinados iriam para o inferno porque o reino era laico... E assim, barganhando para manter seus arbustos com doses mínimas de anticorrosivos, os servidores - quase excomungados - continuavam tentando convencer os senhores, e o resto do reino, de que o que queriam era, tão somente, receber, em contrapartida ao seu trabalho, o que lhes fora prometido, selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado... como na música de Raul¹. O tempo passou e, até hoje, não se sabe como ficou a situação dos comandados especializados/servidores insubordinados, ingratos/quase excomungados. Até quem os deveria defender pulou do barco, sem perceber que a distância até a praia era grande. Teve quem mudasse o discurso, jurando que sua defesa anterior não passara de uma pegadinha do malandro - como era praxe no meio apocalíptico. Consta que a vida seguiu no reino do laço - que ficava na terra da lassidão – onde os senhores do reino viviam ouvindo Pseudo Blues². Porque, para eles o certo é incerto, [e] o incerto é uma estrada reta...². ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ¹ Raul Seixas – Carimbador Maluco ² Marina Lima – Pseudo Blues

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Reino das Pequenas Coisas. Esse é o nome do livro que Denise Gomes-Dias estará lançando no próximo dia 22. Quer saber tudo a respeito? Dê um clique no link http://www.reinodaspequenascoisas.blogspot.com.br/, e você vai ficar a par de tudo. Recomendo totalmente.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Quanto mais eu rezo...

“Quanto mais eu rezo...” ... mais assombração me aparece... Dessa vez foi hoje, enquanto assistia o programa “Bem Amigos”, do Sport TV. Quase no fim do programa, Arnaldo César, ex árbitro de futebol, lançou um desafio, a partir da seguinte situação: se um jogador levanta a bola e, deliberadamente, a recua para o goleiro, comete alguma infração (citando três possibilidades)? Para espanto de Kleber Machado – e de quase todos (presentes e assistentes) -, a resposta (de uma regra que, de clara, nada tem) é de que esse tipo de jogada se constitui simulação e, portanto, punível. Pior! Tanto faz, se o goleiro agarrar a bola ou, como sugeriu Kleber, matar no peito e sair jogando com os pés. “É falta do mesmo jeito”, garantiu Arnaldo. E aí eu pensei: só uma surra de “fedegoso” em quem inseriu esse artigo, como diriam lá Em B.J. da Lapa. Quer dizer: se a bola vem por baixo e você toca para o goleiro pra que recomece a jogada com os pés, tudo bem; se vem por cima e você faz o mesmo – só que de cabeça -, é falta! (!?) Simulação? Nesse caso, o que é o último defensor, completamente fora da jogada, dar um ou dois passos para passar à frente do último atacante, sem esboçar o mínimo esforço pra tentar interceptar a bola? Hã? Ah! É... o quê? Ah! Linha de impedimento! Não é simulação... Hã hã? Certo... Deve ser por isso que o futebol está cada vez mais mal jogado... "Massa crítica não é uma pizza assada num forno nuclear!"

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mais um manifesto da internet

Olá: Outro dia uma amiga e colega de trabalho me repassou um e-mail, com mais uma dessas bandeiras que nos tentam impor. Desta vez foi um "manifesto" em que é proposto que as pessoas que atinjam a idade de 65 anos passem a ficar isentas do pagamento do Imposto de Renda. Como este tipo de proposta costuma ter um número muito grande de adeptos, resolvi dar o meu "pitaco"", que reproduzo a seguir. Querida Amiga: Quem precisa deixar de pagar o IR (e todas as outras coisas, como entrada em espetáculos, por exemplo) não é quem alcança 65 anos (milhões de brasileiros chegarão e passarão por essa idade com tranquilidade), é quem não tem renda ou tem renda insuficiente para tanto. Não pode ser a idade, o fator preponderante; mesmo porque NÃO existe nada grátis! Alguém vai pagar a fatura. Quem? Faça as contas: crianças não pagam; estudantes, mesmo em idade adulta, pagam meia; anciãos (assim considerados os que chegam aos 60 anos) pagam meia. Logo, os que estão no mercado de trabalho e que não alcançaram os 60 pagarão a conta, seja pelo aumento direto dos serviços, seja pelo aumento dos impostos (porque o governo não dá nada, ele só redistribui entre nós, gado seu). Se isentam pessoas de pagar IR pelo simples fato de alcançarem 65 anos (Eike Batista daqui a pouco chega lá; Sílvio Santos, Boni, da Globo, as criaturas do programa "mulheres ricas" já chegaram lá); e, considerando que a nossa população está envelhecendo a passos largos, a conta vai ficar impagável, no médio prazo. Vai ser a mesma situação dos clubes que tinham sócios remidos e acabaram quebrando, porque a base de pagantes se mostrou insuficiente para manter os demais sobre os ombros. Eu já pago muito. Não quero pagar ainda mais, nem quero sonhar com a chegada dos meus 65 pra deixar de pagar IR. Quero, sim, ter possibilidade de, aos 65, continuar podendo desfrutar muuuuito da vida. Quanto aos impostos, vamos colocar pessoas decentes para reequilibrar o peso, redistribuindo com quem ganha muito dinheiro e não paga nada ou quase nada (bolsa de valores, bancos, informalidade, desvios, etc). Tenho certeza de que você também vai chegar aos 65 muito bem. Bjos. Fernando

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Recomeçando...

Olá a todos! Tem um bom tempo que não escrevo nada por aqui. Não, não parei de pensar; muito menos de me indignar com tanta coisa que acontece. Agora mesmo estou aqui, me preparando pra sair, porque a TV está com uma programação uníssona - nem precisa dizer qual é. Então vou procurar o que fazer, fora do circuito. Nos próximos dias vou começar a postar uma coisas que andei compondo. Vamos ver o que acham. Até mais.