sábado, 25 de junho de 2011

Sobre Planos de Carreira

Meu povo:
Pra variar, eles jogam a isca e todo mundo sai comendo... sem senso crítico... sem perceber (ou percebendo, mas não querendo dizer) que a discussão vem sendo travada com base nas consequências, e não nas causas!

Antes de colocar minha opinião, é preciso voltar um pouco na história, já que - como de costume - no lugar da memória, costumamos ter uma "vaga lembrança".

O fato é que, a não ser quem trabalha nas áreas de pessoal e pagamento, não se tem a real noção da composição das parcelas da remuneração dos servidores que ingressaram antes de outubro de 1996, quando o fdp do fhc tirou de todos os servidores (e não só dos antigos) a possibilidade de terem incorporadas às suas remunerações os percentuais das [hoje] FC's e/ou CJ's, além do ATS - Adicional por Tempo de Serviço.

E por que existia a incorporação??? Como um dos colegas bem lembrou, em 1996 (nem tão longe assim, certo?) O nosso vencimento era baixíssimo - pouco maior que o salário mínimo (que não é o de hoje, ressalte-se), e a remuneração dependia de uma série de penduricalhos. Voltando mais um pouco, em 1987, a GG - Gratificação de Gabinete - hoje FC -, remunerava quase duas vezes mais do que a remuneração padrão: em outras palavras: quando entrei no Tribunal, em maio de 87, ganhava $7000; quando virei Secretário de Audiência, minha remuneração foi para $19.000,.

Além do mais, eram muito poucas as GG's. Pra se ter uma idéia, nas Varas havia o Sec. Aud.; as Carteiras de Protocolo, Pagamento, Execução e Notificação, se bem me lembro. Depois vinha o Coordenador de Serviços (hoje Adjunto) e o Diretor. Ou seja: pelo menos 50% da lotação das Varas não tinha gratificação.

Trazendo para os dias de hoje, vejo que as discussões giram apenas em torno do próprio umbigo; ninguém avalia o processo (vocês já se viram diante de pessoas que chegam pra vocês e dizem: "Pô, você é uma pessoa de sorte; passou no concurso do TRT!" Ninguém sabe o quanto você se esforçou, estudando, abrindo mão até mesmo de sua vida privada, justamente pra vencer esse desafio... é chato, né?) Pois é. É assim que, pelas circunstâncias da vida, e não por determinações pessoais, nos sentimos quando vocês, que ingressaram no Tribunal após a retirada de vários de nossos direitos, colocam os valores hoje incorporados quase que como privilégios. Sinto-me quase culpado de haver conseguido, em parte, o que tiraram de vocês, pós-96.

Daí começam os factóides, as sugestões que buscam "homogeinizar" as situações de trabalho, como se fossem e devessem ser tratadas sem nenhuma distinção.

Pois não são, não! Os militares costumam dizer que "antiguidade é posto"; e é preciso respeito. E respeito é algo que só funciona se for mútuo!

Por isso, antes de lançarem projetos de pessoas se afogando (quem está mais em baixo puxa o que está mais acima pra tentar chegar à superfície - em geral ambos acabam morrendo), vamos pensar nas questões que envolvem e beneficiam toda a categoria, deixando de lado as questões circunstanciais e pontuais.

Por exemplo, não vejo, não leio e não escuto ninguém discutir o retorno do ATS - Adicional por Tempo de Serviço, que é um direito que nos foi usurpado. Os magistrados estão brigando por ele nos bastidores. Hora dessas eles conseguem de volta, e nós continuaremos "chupando dedo"!

Outra coisa: serviços de complexidades diversas devem ser remunerados diversamente. Remuneração universal é conversa de quem não quer - ou não consegue - ou tem medo de - assumir responsabilidades. Então, essa história de reduzir os valores das funções (hoje em muito maior número do que antigamente) é balela. Quem, honestamente, assumiria uma função complexa e de fortes consequências (inclusive de reposição/indenização ao Erário) sem qualquer compensação financeira, sabendo que o colega ao lado estaria recebendo o mesmo para executar funções bem menos complexas, por assim dizer?

Finalmente, mas não menos importante, chamo a atenção de todos - principalmente para os defensores - para o fato de que a remuneração por subsídio é o pior que pode vir a acontecer à categoria. E antes que digam que estou defendendo uma posição possoal, eu os convido a verificar a situação dos que tiveram sua remunerações convertidas para essa forma - os magistrados, por exemplo. Estão desesperados para verem retiradas várias parcelas do considerado subsídio. Este, inicialmente, fez muito bem aos que haviam acabado de ingressar nos quadros da magistratura. Passaram de $12mil para $19mil num passe de mágica. Este é o atrativo da cilada - principalmente para vocês, Analistas novos, compreensivelmente desesperados por imaginar terem de esperar 15 anos para chegar ao último nível.

A questão - igual à que ocorreu com os magistrados - é: vem o subsídio, sua remuneração melhora rapidamente, o nível de cobrança passa a ser idêntico e, aí... Serviço Médico! Pois é, passada a euforia da melhora financeira pura e simples, começa a rodar nas cabeças deles: "qual o próximo objetivo?" Não tem. Eles já ganham o que ganhariam em anos à frente. A rotina não muda na essência, mas a cobrança por produção aumenta... muito... e ninguém pode reclamar, nem pedir tratamento diferenciado por ser mais novo; afinal, todos são iguais e, portanto, podem ser exigidos ao máximo... e aí... Serviço Médico... Procurem ler o DOJT na parte administrativa e vejam os pedidos de licença de profissionais com um, dois, três anos de Casa... É pra parar e pensar...

Gente, boa remuneração é muito importante, mas não é tudo - longe de ser tudo. Já ganhamos muito menos aqui, mas éramos muito mais felizes. Nós nos conhecíamos, conversávamos, nos víamos... há quanto tempo você não vê o seu colega da Vara ou Setor ao lado?

E vocês, dirigentes, se esqueceram completamente disso. Tão preocupados com suas plataformas eleitorais, colocaram as vidas de todos nós na ponta da lança financeira e não ligaram pra mais nada.

Quanto a nós, brigamos contra nós mesmos, em pequenas fatias: 1º grau contra 2º grau; oficiais de um lado, analistas de outro, agentes idem, e nós técnicos... bem, somos uma maioria que nada faz... como o povo, em geral. Sentimos as dores, as sacanagens, reclamamos, mas continuamos marchando, pensando, talvez "numa roupa que já não nos serve mais"...

Colegas: massa crítica é mais do que uma pizza assada num forno nuclear.

Um abraço.
Fernando

Obs.: Se quiserem trocar idéias ao vivo, sem conotação político-sindical, é só marcar.

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